Qual a imagem que você pretende transmitir do PrasBandas para o público através da divulgação do evento? Quando moleque trabalhei em agências de publicidade e marketing e descobri que por trás de todo produto ou idéia tem várias pessoas cuidando não só da imagem, como do conteúdo e distribuição disso para o seu público-alvo. Claro que tem muita mentira e manipulação de dados nesse mundo dos business, mas levei sorte do meu padrinho nessa área ser Zeno José Otto – um cara culto mas chucro e grosso. Com ele aprendi que a propaganda tem a intenção de propagar sentimentos também, além dos meros, pobres e cansativos números. O lance na comunicação do PrasBandas é tentar transmitir o sentimento de pertencimento que cada um pode ter. Que cada um ao se deparar com a idéia da mostra, se sinta convidado a participar e saia da toca. Como o Seu João ontem se sentiu; pertencido. Aquilo tudo era pra ele também e chegou chegando!
Que tipo de público você pretende atingir com a divulgação?
Do Danielzinho que em agosto vai completar 4 anos ao Seu João que vai fazer 67 anos. Do piá pobre que usa crack ao sortudo abastado que nem precisa de um emprego pra sobreviver, do velho bêbado que dorme e esquece a mochila na praça à senhora que veio de carro e trouxe a filha, da servente à professora e diretora da escola onde damos as oficinas, do responsável pelos evangélicos ao suíço da ONG que trabalha há anos dentro da favela, das bandas que se formaram ontem às que já tem tempo de estrada. Tanto faz pra quem desde que a preferência seja pra comunidade do bairro da vez e que a bandeira seja da criação própria e na nossa língua. Nada de covers, gozar com o pau do outro – como diria o grande Lobão - nem de mensagens estupidamente subliminares via línguas alienígenas.
Com que finalidade você criou o PrasBandas?
Não tem finalidade, mas meios de ajudar o outro a se conhecer, me conhecer e me ajudar. Parece uma frase clichê, mas na prática há trabalho pra uma vida toda nessa brincadeira séria. Ajudar o outro a se expressar e se conhecer é um norte amplo, geral e irrestrito que o fim só o futuro dirá. Não é à toa que a Astrologia e sua ciência deram o pontapé inicial no projeto todo e direcionam seus próximos passos.
O que você espera para o futuro do projeto?
Mais crescimento, organização, abrangência e brodagem. Estruturar e complicar cada vez mais suas intenções intrometidas. Rodar vários bairros, aumentar as oficinas com mais módulos em outros horários e em outras escolas, chegar em mais pessoas, comprar espaços fixos onde se possa criar raízes, troncos, caules, flores e frutos vida afora. Quero que todos os meus amigos que ontem trabalharam de graça e hoje ganham um pouco, ganhem mais também e que suas rendas principais venham do projeto. Mas mais do que grana, que eles se safem psicológicamente desse mundo louco, desse futuro hostil. Que o comunismo do Marx, o anarquismo do Freire e a psicologia do Gurdjieff nos desburocratize e nos faça mais amigos, irmãos queridos e companheiros de intromissões Uberabas adentro!
Como o público recebeu o projeto no início? E como recebe agora? Houve alguma alteração (progresso)?
São vários níveis de recepção. Cada pessoa compreende as intenções de acordo com seu nível de carência, egoísmo e altruísmo. Há as que só vêem nele uma forma de aparecer: chegam, pipocam e saem de fininho. Outras vislumbram a possibilidade de mudar o mundo: o seu, ali, na esquina, e se envolvem cada vez mais. Com o apoio da Fundação Cultural, facilita pra mídia pautar, os céticos parecem começar a abrir os olhos e os fãs velhos enchem os olhos d’água porque entendem que isso pode realmente acordar outras pessoas.
O que mudou depois de ter conseguido apoio da Lei de Incentivo à Cultura?
Mudou que agora temos que lidar com cifras, planilhas, planejamentos e fazer disso ações maiores. Hoje paga-se oficineiros, web designer, divulgadores, seguranças, apresentador, palco, som, luz, taxa pra usar a luz na praça, taxa pra usar a praça, bandas convidadas, não se cobra inscrições e nem ingressos. Sendo grana pública, entendo que temos que ser o mais transparente e parcimônico possível. Não sei se chegamos a mais pessoas nessa retomada (até porque contar sem bilheteria é impossível), mas quem está aprendendo nas oficinas não esquecerá disso jamais na vida. E isso não é macumba pra turista, não tem a ver com quantidade de votos, mas qualidade de vida. Quero que nossa influência na vida desses alunos e alunas seja positiva, e pelo visto tá sendo.
Quais são as empresas colaboradoras através da renúncia fiscal?
Ainda nenhuma. Algumas ainda estão avaliando as intenções e posturas do projeto na rua, pra ver se a nossa idéia presta e funciona de acordo com as intenções e posturas mercantilistas deles. O capitalismo em si tá nada interessado nas necessidades verdadeiras das pessoas mas sim na estatística de como empurrar cada vez mais o seu produto (muitas vezes inútil) pro comprador e transformar ele num dependente. Mas depois de terminar um documentário sobre essa 5ª edição, o próximo passo é bater simpática e calmamente nas portas dos diretores de marketing de grandes empresas curitibanas, a fim de mostrar pra eles que nem só de cifras vive o homem. Se querem seus nomes linkados a grandes e sérios projetos sociais, essa é a hora!
Por que você escolheu desenvolver o projeto nas periferias de Curitiba? Qual é o intuito? Que tipo de consciência você pretende despertar nas pessoas?
Despertar a consciência de si! A velha e chata tríade: quem somos, de onde viemos e pra onde vamos? Quando as pessoas são incentivadas de verdade a se manifestar, vêem em si os medos e se fecham, ou as alegrias e se abrem pro novo. A intenção é se intrometer na vida do Seu João analfabeto, na do Danielzinho virtuosinho. Eles aproveitaram a oportunidade com alegria e não tiveram medo do novo... Vamos pras regiões da periferia onde se tem menos grana e informação. Somos intrometidos, lembra? (risos) Despertar o potencial criativo em quem já tem isso potencializado em escolas particulares desde criança acho descomprometimento social. Amigos políticos me dizem que isso que estamos fazendo é trabalho pro governo, mas eles como funcionários públicos também não fazem porra nenhuma a não ser justificar que não conseguem. Logo, nós vamos fazendo. Na medida do possível, comendo pelas bordas, com carinho, autonomia e vergonha na cara. As desculpas furadas, deixamos pra quem pode.
Você julga a comunicação do PrasBandas eficiente?
Ou acredita que algumas coisas precisam mudar?
Ela é mambembe, simples, humana, funciona bem mas pode ser melhor. Como fiquei vendo burocracias mil, dessa vez ficou quase toda nas costas do Edinho – que a fez maravilhosamente, com tesão, vontade e paciência. Tudo pode ser melhor e deve mudar, do mundo até nós mesmos. E é por isso que esse projeto está na rua de novo: pra sermos melhores nessa vida. Parar de olhar só pro próprio umbigo e desdenhar a impossibilidade de transformar algo em nós e no outro. Ter mais visibilidade em outdoors, carros de som, bonés, camisetas, canecas, cuecas, meias, jingles nas rádios, blitz promocionais com gostosonas nas esquinas e o escambau é mole; é só ter grana e pronto. Qualquer picareta faz. Agora, fazer dessa visibilidade algo verdadeiro e natural não é da noite pro dia e não é pra qualquer Zé Ruéla. Nós somos foda porque somos humildes. Trabalho de formiguinha, sempre. Mas, trocando em miúdos, o maior desafio do PrasBandas é crescer na estrutura e no conceito ao mesmo tempo, proporcionalmente.
A Juh Krainski é estudante de Comunicação Institucional na UTFPR - Universidade Federal Tecnológica do Paraná e me pediu essa entrevista pra um trabalho. Foto: Aline Kurzlop